Para si, que faz competição, quem é O Seu Adversário?
E para si, que não faz competição, mas vai ao ginásio, faz jogging ou faz caminhadas, o que é que o motiva?

Estas são perguntas que, habitualmente, coloco aos meus atletas. Com as respostas que me dão vejo para onde é que a “bússola” deles está orientada.

O que pretendemos na competição e, também, na prática do desporto do dia a dia é chegar aos nossos objetivos o mais depressa possível, logo, é crucial garantir que a direção na qual estamos a caminhar é a direção certa. Mas que direção é essa? E qual é, relmente, a direção certa?

A PRESSÃO E O NERVOSISMO AUMENTAM
Vamos começar por entender o que é que acontece quando vamos para um jogo, para uma corrida, para um torneio a pensar que temos de ganhar, que a nossa equipa tem de ganhar, que temos de ser melhor que o nosso adversário, que a outra equipa é mais ou menos forte do que a nossa, que aquele determinado atleta é melhor ou pior do que nós, ou seja, quando vamos preocupados e com o foco no adversário e no resultado da prova:

  1. Estou a desperdiçar tempo a pensar em pessoas/coisas que me são exteriores e sobre as quais não tenho qualquer controlo;
  2. A pressão e o nervosismo aumentam;
  3. O meu corpo fica mais tenso;
  4. O meu self-talk negativo aumenta;
  5. A minha auto-confiança decresce;
  6. A minha capacidade de lidar com a adversidade diminui;
  7. Os meus resultados vão ficar abaixo das minhas expetativas;
  8. A minha frustração aumenta;
  9. A minha auto-estima baixa;
  10. Eventualmente, vou ficando mais amargo…

SE ESTIVER CONTINUAMENTE A COMPETIR CONTRA OS OUTROS, TORNA-SE AMARGO, MAS SE COMPETIR CONTRA SI PRÓPRIO, CONTINUAMENTE, TORNA-SE CADA VEZ MELHOR!

Então, afinal, quem é O Meu Adversário?

O meu adversário sou eu próprio e, no fundo, eu próprio sou um conjunto de adversários, se entender por adversário cada uma das minhas fragilidades.

Nem sempre é fácil transmitir e fazer entender este mindset. Os meus atletas perguntam-me muitas vezes:

“mas, então, se eu não pensar que tenho que ser melhor do que o outro da outra equipa ou, no caso dos desportos de equipa, se não pensarmos que a nossa equipa tem de ser melhor do que a equipa adversária, não vamos ter motivação para competir”

Errado! A motivação é mais eficaz quando vem de dentro de nós próprios e vem alinhada com a nossa necessidade de nos superarmos a nós próprios, a cada dia que passa, de melhorarmos cada um dos nossos pontos menos fortes e não do facto de querermos ser melhores do que o adversário x ou y.

Competir constantemente contra os outros, torna-nos amargos; competir contra nós próprios, torna-nos mais conscientes das nossas limitações e das nossas dificuldades, mais focados, mais exigentes connosco próprios, mais “trabalhadores”, mais atentos a cada uma das nossas fragilidades que nos possam estar a prejudicar e, até, mais tolerantes com os outros e mais felizes. É importante fazer esta transição de um mindset para o outro: queremos passar a olhar mais para dentro e menos para fora e abraçar um mindset de “crescimento”, que nos permita explorarmos todo o nosso potencial interior.

A questão dos adversários é mais do que um simples pensamento. Na verdade, é toda uma forma de estar na vida. Se em todas as áreas da nossa vida estivermos sempre a competir connosco próprios e tentarmos ser melhores do que eramos ontem, o sucesso vem ao de cima de uma forma natural.

O que é competir comigo próprio?

Então e o que é, realmente, competir contra mim próprio?

Vamos definir: é limpar todo o “lixo” da nossa cabeça e focarmos em nós próprios; é não nos compararmos a ninguém, é não nos importarmos com os outros, e é, também, analisarmo-nos com regularidade; é identificarmos todas as nossas fragilidades, definirmos qual o objetivo a atingir para cada uma delas e pensar, a cada momento, onde é que há espaço para nos melhorarmos a nós próprios e como é que podemos transformar as fragilidades em pontos mais fortes.

Façamos alguns exercícios práticos:

  • O Jogador A de Voleibol tem excelente qualidade técnica, mas tem pouco espírito de equipa, lida mal com os seus próprios erros e com os dos outros e sofre de ansiedade pré-jogo.
  • O Ciclista B é um atleta robusto, com grande capacidade física e técnica, boa destreza com a bicicleta, boa leitura de corrida, vários títulos no seu historial, mas atualmente, está abaixo da performance esperada, com crises de ansiedade, medo de quedas, cansaço físico e quebra de confiança.
  • O Golfista C está no início da sua carreira e, apesar de ser um excelente jogador nos treinos, a pressão impede-o de conseguir boas jogadas em momentos críticos, nos torneios, o que lhe rouba as vitórias.

Qualquer destes três atletas é extremamente competitivo e luta, todos os dias, pela vitória, partindo para cada jogo, para cada corrida ou para cada competição, com ânsia de ganhar e de bater os seus adversários.

TRABALHAR NO SENTIDO ASCENDENTE

Nos casos acima apresentados, não há falta de garra, nem de vontade de vencer, mas a “bússola” está mal orientada. Qualquer um dos três, parte para a competição com os seus adversários em mente, com o marcador em vista, com a linha da meta e com a tacada da vitória na cabeça, mas, como já vimos, o efeito daí resultante, vai ser, mais pressão, mais tensão, mais nervosismo, mais self-talk negativo, menor capacidade para lidar com a adversidade, autoconfiança mais baixa e, eventualmente, uma performance abaixo das expetativas e uma maior frustração, com baixa de auto-estima por via de eventuais resultados menos bons.

Se cada um destes três atletas, conseguisse “puxar para cima” cada um destes pontos previamente identificados, colocar esforço e empenho em melhorar cada um deles, significativamente, como é que ficariam as capacidades desses atletas?

Se cada um desses atletas, em vez de estar a pensar em ser melhor do que os outros, pensasse em ser melhor do que ele próprio e se superasse a si próprio em todos esses pontos, facilmente se transformava num superatleta! Passava a ser um atleta a trabalhar no sentido ascendente, em vez de andar, literalmente, em círculos, a lutar contra todos os seus adversários e com a mente presa neles.

 

NÃO DEIXE QUE A SUA MENTE FIQUE PRESA NO ADVERSÁRIO

 

Perguntei ao Pedro (nome alterado por motivos de confidencialidade), um dos atletas que tem sessões regulares de Mental Coaching Desportivo comigo, ciclista na vertente de estrada, que diferença tinha feito na sua vida de atleta, nas suas atitudes e na sua forma de estar e de sentir, esta nova forma de encarar a modalidade que pratica:

– “O facto de teres deixado de pensar tanto nos teus adversários e teres começado a pensar mais em te melhorares a ti próprio, trouxe alterações na forma de encarares as competições e no modo como reages a elas?

Pedro: “pois penso que tenho de lutar contra mim mesmo e assim não me preocupo tanto com os outros”

– “Que benefícios é que te trouxe essa alteração de mindset? Sentes-te diferente? Como?

Pedro: “sinto-me mais calmo em tudo e mais seguro”

– “Descreve as sensações físicas que tinhas anteriormente e as que tens atualmente quando pensas numa competição ou quando está prestes a entrar em competição”

Pedro: “antes, com o nervosismo, sentia os músculos a tremer e nunca conseguia exercer a minha máxima força, agora é o oposto”.

No desporto, como na vida em geral, lembre-se: o nosso adversário somos nós próprios! Seja atleta de competição ou não, no próximo treino, ou na próxima prova, ou no próximo jogo, leve esta frase consigo: Onde é que EU posso melhorar? Dê o benefício da dúvida e experimente mudar os ponteiros da bússola para esta direção. Supere-se a si próprio, todos os dias, esqueça os outros, trabalhe em si e para si e não se deixe ficar amargo! Os resultados vão chegar!

Voltarei em breve com mais dicas de treino mental. Bons treinos e boas provas!

Sónia Branco Martins, Mental Sports Coach Move Wisely

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